sexta-feira, 26 de outubro de 2012

Trabalhar de graça: sim ou não?

Num dos blogs que sigo, o http://caestamosno.blogspot.pt/, passa por lá um dilema que para mim é e sempre foi fácil de decidir: não!
http://caestamosno.blogspot.pt/2012/10/trabalhar-de-graca-para-enriquecer-os.html#comment-form

Ora, a nossa formação não foi de graça, custa muito aos nossos pais. Durante o meu curso não tive qualquer tipo de bolsa, porque a quem devia isso decidir achava que os meus pais podiam pagar. Tive uma irmã a estudar na Faculdade ao mesmo tempo que eu, 2 filhos na faculdade não é nada fácil, um já é o que é... E os meus pais não são médicos, nem advogados nem nada que se pareça... Lá fizeram um esforço, e tanto eu como a minha irmã terminámos tudo o mais rápido possível e com sucesso.
Além dos custos financeiros, foi um investimento em termos pessoais muito grande. Estudar, estudar, estudar, muitos trabalhos, estágios, uma pressão muito grande para proceder correctamente, o contacto com os doentes... Não tive uma vida académica muito preenchida, precisava mesmo do meu tempo para estudar. Não me arrependo de nada, soube conciliar tudo, e foram os melhores anos da minha vida. Hoje já recordo com muita saudade...
Com todo este investimento financeiro e pessoal, ao fim de todos estes anos, perante a pergunta "Trabalhar de graça: sim ou não?", respondo sempre NÃO! Não devemos pôr em prática aquilo que aprendemos a tanto custo sem sermos recompensados por isso de forma munetária. Há outras formas de recompensa, muito mais importantes que o dinheiro ao fim do mês, mas ninguém vive de beijos e de carinho, ninguém vive do agradecimento dos outros, ninguém vive do valor que os outros não dão, ninguém vive do tão falado enriquecimento do currículo... Alimenta o ego, dá-nos força para continuar, mas não alimenta o estômago nem preenche os sonhos de uma vida melhor...
Quando idealizamos investir tempo e dinheiro numa licenciatura, pensamos que ao fim da mesma iremos encontrar um emprego na nossa área e parar finalmente de sobrecarregar os nossos pais... Como era tão bom que assim fosse! Como já vão longe esses tempos... Terminei a minha licenciatura em 2008, ainda fui de um tempo bom... Na minha turma estamos todos a trabalhar. Até nem esperei muito, 6 meses, mas já estava a desesperar... Lembro-me de chegar a casa triste e desanimada, após ir a entrevistas para trabalhar em lojas, e dizer "Nem sequer para dobrar cuecas e meias se acham que sirvo". E o meu pai, muito animador, perguntar "Mas tu sabes dobrar cuecas e meias?" LOL
Quando surgiu o concurso já me encontrava a trabalhar como enfermeira, a recibos verdes. Foi em Maio de 2009. Nesta primeira fase nem todos ficaram. Tive colegas que se encontravam já a trabalhar de forma voluntária em determinados serviços que receberam novos colegas, e não foram eles os selecionados. Por isso reforço: trabalhar de graça, não obrigada! Mais tarde nesse ano fomos todos felizmente colocados.
Antes do trabalho a recibos verdes, dei uma ajudinha juntamente com 3 colegas numa associação, que me procurou porque pretendia recrutar um enfermeiro a tempo inteiro, como estágio profissional. Logo que tive a resposta de que tal não seria possível, tive de deixar a associação. Não era justo ter de pedir dinheiro aos meus pais para me deslocar diariamente à mesma.
Como voluntária fiz parte da ACREDITAR. Aí sim, era uma voluntária normal, não exercia a minha profissão, ninguém sequer sabia a minha profissão. Nem as crianças, nem os pais. Ia até ao hospital de 2 em 2 semanas, estar com as crianças e dar-lhes todo o meu apoio. Até hoje, encontro-as na rua, aparentemente bem de saúde, crescidos e felizes, mas não sei qual foi o diagnóstico que tiveram, os tratamentos que fizeram... Na altura enchia-me o coração estar com estes miúdos, ver a sua força de viver. Fazia-me esquecer os meus problemas, tão pequenos em relação ao gigantismo dos probelmas deles. Viviam tudo com intensidade, enfrentavam os tratamentos com normalidade, e tantas e tantas vezes, eram as crianças que apoiavam os pais... Uma actividade que tive pena de deixar, mas espero um dia voltar.
Esta foi a minha situação há 4 anos atrás. Hoje em dia as coisas estão bem piores. Muito recentemente um jovem enfermeiro, que teve necessidade de emigrar, escreveu uma carta de despedida e enviou-a ao nosso presidente. Na mesma, o colega pediu para não criar um imposto sobre as lágrimas e sobre a saudade, este sentimento tão tipicamente português.
Actualmente o país investe em mão-de-obra tão qualificada e não usufriu da mesma. Que desperdício de capacidades! Como é triste ter de abandonar a família para ir atrás de um sonho, algo simples como ser-se empregado naquilo em que se formou. Como admiro a coragem destes jovens, e menos jovens, que deixam tudo para poderem trabalhar, para poderem sobreviver. Porque chega a um ponto que a situação é incomportável, e os pais não podem mais... E como lá fora, onde os Portugueses são recebidos, são valorizados e bem recebidos. São competentes e bem formados. São aceites, contratados, promovidos. Recebem apoio para se instalarem. Têm condições de trabalho, para não falar em ordenados... Deve ser tão confortável encontrar um cantinho, embora longe, embora com uma língua diferente, embora com uma cultura diferente, onde nos integrem, nos valorizem e nos deixem crescer profissionalmente...
Tenho muitos amigos, licenciados, e muitos com mestrado, que estão há muito à procura do 1º emprego, na esperança, no impasse. A eles digo que não desesperem e alarguem os horizontes... Alguns já foram. Reino Unido, Holanda, Suiça... Outros aguardam ansiosamente a sua vez, seja aqui, seja noutro país qualquer... Desejo-lhes sempre coragem e sucesso. E peço um cantinho para poder visitá-los :) Já tenho alguns...

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